sexta-feira, dezembro 29, 2006

Síndrome de final de ano


Só à custa de um bule de café preto e muito Lighthouse Family é que me meto a besta à escrever um post com um tema inóspito desses. É nestas horas sinto falta de ter um bicho andando pelo apartamento. Um gato talvez...
Todo dezembro a neurose é igual. Loucura judaico-cristã da culpa que a mercadologia de consumo aproveita e paradoxalmente todo mundo cai matando. Frustrações mil. Surpresas inesperadas e desagradáveis (Aquele parente vem mesmo?!.....), Egoísmos.Ofensas. Acidentes. Enganos. Todo mundo com os nervos à flor da pele.Talvez levemente contraditório com a mensagem padrão da época. Ah sem contar, que esse ano os caras ainda enforcam um diabo perto da virada, só pra contribuir com as energias positivas do universo.
Pra quê? Porquê tudo isso?
Atribuir e internalizar a noção de ruptura (ou como se prefere chamar: renovação) que foi designada ao fim de ano é uma coisa tão nociva e desconstrutiva que chega a dar medo. Quando se junta isso à era da descontinuidade atual, aí a coisa fica uma maravilha.
De um lado altera-se a nocão de tempo abruptamente como se fosse algo próximo à uma bomba relógio, uma contagem regressiva, o mesquinho:-o que vc fez este ano fez, o que não fez... E haja correria, para resolver tudo de última hora. De outro, estamos absurdamente cada vez mais longe do fazer, da experiência, do compartilhar, tudo que fazemos é revisitar, recriar, reaproveitar, repetir. Juntando esses dois dá essa insuperável época em matéria de frustração e recriações pobres sem imaginação.
Não queria mesmo falar disso. É uma hora rídicula para se ir contra tudo também. Bom, existe sempre alguém que se diverte pela gente (as crianças talvez)...
Na verdade o que me apetecia mesmo era escrever sobre noites de sábado. Noites que não se devia passar sozinho.
Fontes: A Foto é de Pascal Renoux http://www.pascalrenoux.com/. O texto é livremente inspirado num artigo de mesmo título de Christian Ingo Lenz Dunker da Revista Viver Mente e Cérebro deste mês.

domingo, dezembro 17, 2006

Que se vayan todos!


Era o que urrava a Argentina na Plaza de Mayo em 19 e 20 de dezembro de 2001, 5 anos atrás, horas antes da renúncia de Fernando de la Rúa. O cacerolazo continuaria ainda por mêses, com saques, depredações e mortos. A crise econômica e a instabilidade política também. Que se vayan todos era um grito unânime à toda classe política e ao Governo.
Em 1° de dezembro de 2001, para tentar deter uma corrida em massa da população que tencionava sacar seus depósitos em pesos para dolarizá-los ou ainda seus depósitos em dólares (o que era permitido), Domingo Cavallo, numa volta atrapalhada ao ministério da Economia(num episódio toma que o filho é teu!), decretou o "corralito", limitando os saques em pesos e impedindo os saques em dólares. Era o fim. Era um atestado de incompetência administrativa e de irresponsabilidade da dupla Menem- Cavallo, 10 anos no comando de uma política econômica que misturava a aplicação populista de um neo-liberalismo cego com clientelismo político e irresponsabilidade fiscal. O ato foi a gota dágua para a população.
A medida era inevitável. Uma fuga "escusa" de doláres ocorria há meses no país. Avisados com antecedência e sabedores da quebra do setor bancário argentino, as grandes empresas e os grandes correntistas já haviam na sua maioria retirado seus pesos e doláres do sistema. O currency board adotado anos antes pela Argentina para impressionar o mercado financeiro internacional era um sistema ultra-radical de câmbio fixo que ancorova o peso ao dólar com lastro fixado por lei nas reservas internas. (Pra se ter uma idéia apenas a Bulgária utiliza-o hoje em dia). As crises financeiras do México, da Ásia, Rússia e mais ainda a do Brasil, durante nos anos 90 afetaram severamente o fluxo de capitais e a competitividade cambial das exportações, minando as reservas. O currency board impedia ao mesmo tempo o aumento da base monetária via impressão de moeda e a criação de novos impostos. Com as despesas públicas (previdência e estados principalmente) e o défcit em conta corrente em descontrole, o jeito foi criar títulos da dívida e precatórios numa atitude de rolagem que só a fez crescer furiosamente.
Como boa parte da América Latina, seja em maior ou menor grau, a Argentina resolveu o problema da Hiperinflação da década de 80 com medidas preconizadas pelo Consenso de Washington (as diretrizes ideológicas do FMI e Banco Mundial, para a América Latina nos 90) à saber: privatizações, desregulamentação e financiamento do crescimento com capital externo.
Entretanto, também como em boa parte da América Latina, a equação não resolveu o problema do desemprego, da dívida pública e do crescimento. Assim como no Brasil, o montante angariado pelas privatizações não foi suficiente para estabilizar, neutralizar ou ainda conter a dívida pública, boa parte dela em dólar no caso argentino. O fator juros altos, utilizado sempre para atrair capital externo e agora turbinado pela crescente emissão de novos títulos foram obviamente, o multiplicador vil desta equação. O capital gerado pelas privatizações, esvaiu-se pelo ralo, em acordos, favores políticos e clientelismos junto as províncias (estados) e municípios e outras particularidades institucionais e morais latino-americanas.
O resultado foi que em dezembro de 2001, antes mesmo que o Governo conseguisse pagar os serviços da dívida com o que restava de reservas internas e de dólares no mercado, o país quebrou.
De junho de 2001 para agosto 2002 o PIB Argentino caiu 16%! O PIB per capita que era de US$ 7.170 passou para a casa de US$ 4.000. As cantinas das escolas secundárias eram mantidas abertas diariamente pois as crianças desmaiavam de fome e 20% delas não conseguiam ter uma alimentação diária básica. A água substituiu o desinfetante e o talco substituia o desodorante no quesito higiene pessoal. De dezembro de 2001 (época do corralito) à janeiro de 2002 houve um acréscimo de 20 mil pessoas mortas em decorrência de problemas cardíacos nos hospitais.
Dos 35 milhões de argentinos em 2002 , 19 milhões encontravam-se abaixo da linha de pobreza, (com renda mensal inferior a R$600). Destes, 60% vinham da classe média nos últimos 3 ou 4 anos."São pobres que mantêm certas características, sobretudo culturais e educativas, que não são próprias dos pobres. É gente que vive objetivamente em situação de pobreza, mas que tem sistemas de vida, expectativas e visões que não são próprias do universo da pobreza", dizia uma socióloga da Universidade de Buenos Aires.
No período de 2003 à 2006 o PIB argentino recuperou-se de maneira rápida considerada a gravidade.
Entretanto, as consequências desta crise conseguirão afetar por inteiro o futuro de uma ou mais gerações.
Foi um preço alto demais à pagar.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Que foto é essa, pai?



Olhando melhor a foto, fiquei confuso. O lugar parece mais ser a Praia Grande. Se for, a época deve ser 61 ou 62. Naquele tempo passávamos uns tempos na Cidade Ocean onde uma namorada no Elcio, a Nadia, tinha apartamento. O carro, não sei de quem é. Parece ser um Chevrolet 53 mas não era de ninguem da turma. Se for a Cidade Ocean, o apartamento era uma kitchenete e só tinha espaço para a Nadia e sua mãe (estávamos começando a namorar). O Elcio e eu dormíamos no teto do Edíficio, na lage junto à caixa d'água. Não consigo lembrar o que tinha na mão nem quem bateu a foto. O Elcio era de Pinheiros. Conheci ele quando fazia o ginásio à noite lá em Pinheiros (no Alfredo Bresser). Depois passamos para o Fernão Dias para fazer o científico. Se a época for mesmo esta, eu já estava no Fernão Dias, cursando o científico à noite. Só fiz até o segundo ano. Repeti e sai. O Elcio tinha uma mãe muito legal, a D. Ercilia. Ela era do nordeste, gente que tinha plantação de cana, e contava que alguem pos fogo no canavial e perderam tudo. Ficou viúva. Ela tinha uma filha do primeiro casamento, a Terezinha, que, quando a conheci, apesar do nome, e da mãe ser baixinha, era uma mulher muito alta. A D.Ercilia veio para São Paulo e casou-se novamente com o Sr. Fausto e teve o Elcio. A Terezinha era então meia irmã mais velha uns 10 anos. Como eu morava no Bráz, acabava passando os fins de semana na casa do Elcio pois a turma era toda de Pinheiros. Ela sempre me recebeu muito bem. Sempre fazia lanches e almoços para os amigos do Elcio. O Elcio era baixinho mas muito boa pinta e tinha muitas namoradas. Ele tocava piano muito bem. Gostava de bossa nova e jazz. Chegou a tentar ter um conjunto mas não prosseguiu. Acabou abrindo, em casa, uma editora (Gazela) que na verdade uma revendedora de coleções de livro. Era usual na época que se vendessem coleçoes de livros de porta em porta. Já casado, cheguei a trabalhar com ele vendendo livros. A Terezinha era técnica de laboratório no Hospital das Clínicas. Conheceu o Mario, que era funcionário público, eu acho. O Mario era irmão do Flávio Rangel, famoso diretor de teatro. O Flávio ia muitas vezes aos almoços da D.Ercilia. Nesta época, o Mario saía para namorar a Terezinha e o Elcio e eu tinhamos que acompanhar. Só que o Mario nos arrumava entradas para teatro, ou shows, para se livrar de nós. No fim da noite nos encontrávamos para jantar que ele nos pagava no antigo Gigeto, que ficava num terreno alto em frente ao Teatro Cultura Artistica. Era para lá que iam os artistas depois dos espetáculos. O Mario queria ser ator (influencia do irmão, acho) mas casou e acabou indo trabalhar para a Enciclopedia Britanica. Acho que começou como vendedor. Acabou sendo um alto executivo da EB, gerente geral, acredito. Depois que casei, acabei ficando longe do Elcio, e da turma. Muitos anos depois encontrei o Elcio no prédio da empresa em que trabalhava para quem ele vendia formulários contínuos. Depois nunca mais. Há uns 2 ou 3 anos ele telefonou para casa e falou um tempão com sua mãe. Estava convidando para o lançamento de um livro que ele tinha escrito. Estava aposentado, acredito. Tinha se separado da esposa. A filha que tiveram tinha falecido. Apesar disto tudo, sua mãe disse que o Elcio estava com muito bom animo. Ele é espírita de religião. Pode ter ajudado. O que ele contou de engraçado para a sua mãe era que quando estava se separando da mulher, Áurea, esta começou um relacionamento com um vizinho amigo do mesmo prédio onde moravam. Eis que o vizinho vem pedir permissão do Elcio para namorar a Áurea. João, isto aqui está uma salada. Espero que te dê material para o que precisa.

Pai

Deu sim, pai. Você me deu o post pronto.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Irma Records

Há uns 10 anos, bem antes de Mezzanine dell'Alcazar, Buddha Bar e Café del Mar, ouvi falar de Lounge music trombando com uns cds que tinham este loguinho, numa megastore. Hoje me arrependo de não tê-los comprado todos.
Fundada em 1988, num prédio que um dia abrigou uma conhecida casa suspeita de Bologna, chamada "Irma Casa di Prim'Ordine" a Irma Records foi uma das primeiríssimas gravadoras a lançar discos de Lounge, Easy listening, Chill-Out, Acid Jazz e Brazilian new Bossa. Pra quem gosta é um prato cheio.
Eu recomendo : Don Carlos - Mediterraneo, Gazzara - Spirit of Summer e qq uma do Kaleidoscópio que é aqui de SP mas foi hit na Itália em 2004. E tem umas coletâneas Ibiza House boas tb.
Ah, e pra quem não percebeu o logo é baseado na personagem-título de um filme antigo do B. Wilder: Irma La Douce com Shirley Maclaine e Jack Lemmon.


Fonte: http://www.irmagroup.com/

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Città delle donne


A melhor coisa do cinema europeu dos anos 60 foi, com certeza o neo-realismo italiano.
E a melhor coisa do neo-realismo italiano foi, com certeza, as mulheres.
Acessíveis, verdadeiras, apaixonadas, desesperadas, insolentes, voluptuosas e intrigantes... A personalidade vibrante da atriz invadia sempre a da personagem.
Dizem que quando filmava La dolce vita, Fellini não conseguia convencer nenhuma a se prestar a fazer o papel fútil de Sylvia Rank ( uma caricatura de atriz hollywodiana) que coube afinal à sueca Anita Ekberg.
Agora..., interpretar prostitutas amargas e desiludidas, briguentas donas-de-casa dos subúrbios, amantes maternais ciumentas e rastejantes ou condessas blasè deprimidas em busca de diversão, era com elas mesmo.

Genital Verstümmelung

8.000 garotas sofrem algum tipo de mutilação gentital todos os dias no mundo. 150 milhões de mulheres vivem atualmente com este trauma. As principais áreas de ocorrência deste crime localizam-se na Africa sub-sahariana e Egito (onde a mutilação assumiu, por incrível que pareça, um caráter médico?!). Mas existem também ocorrências no Oriente Médio e Indonésia, países de religião majoritariamente islâmica.
Em 22 e 23 de novembro último, entretanto, uma iniciativa positiva foi concretizada com a conferência da Universidade de Azhar (o maior centro teológico sunita do mundo), no Cairo, onde encontraram-se "scholars" e especialistas na Lei do Alcorão, além de personalidades do mundo islâmico.
O resultado desta conferência foi a declaração de uma resolução que ainda não virou Fatwa: -Não existe nenhuma justificativa religiosa para a práticas. As três principais religiões monoteístas mundiais definem o homem como sendo uma criação perfeita do todo-poderoso, e condenam qualquer dano infligido à criação de Deus. No seu sura 95, verso quatro, o Alcorão afirma: "Nós criamos o homem segundo a nossa mais perfeita imagem". Além disso, o islamismo preconiza que tanto os homens quanto as mulheres devem experimentar a satisfação sexual, e satisfazer a mulher é considerado um dever conjugal do marido - uma tarefa praticamente impossível quando a mulher é circuncidada. Os teólogos e clérigos na platéia declararam, em sua maioria, que a circuncisão feminina é um costume deplorável, para o qual não existe qualquer fundamento nos textos religiosos. Eles pediram aos parlamentos dos países nos quais essa prática é comum que instituam leis transformando a mutilação genital em crime.
Por mais incrível que pareça, a conferência de Azhar foi idealizada, financiada e organizada por um ocidental. Rüdiger Nehberg, 71, um homem conhecido por aventuras como a travessia do Oceano Atlântico em um barco movido a pedal, criou em 2000 a Target (patrocinadora do evento) uma organização de direitos humanos dedicada a combater a mutilação genital feminina. Desde então, Nehberg, acompanhado da sua companheira, Annette Weber, tem viajado pela África com a sua câmera de vídeo, documentando essa prática inumana, e procurando obter o apoio de lideranças políticas e religiosas à sua causa. Aonde quer que vá, Nehberg diz: "Esse costume só pode ser abolido com a força do islamismo". Ao organizar a conferência, sob os auspícios do Grande Mufti egípcio Ali Jumaa, o pragmático herói moderno Nehberg, pode ter alterado o destino de milhares de pessoas.

Fonte: Uol, www.uol.com.br, Der Spiegel http://www.spiegel.de/,

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Olhar para outros pontos de vista pode trazer boas surpresas

Lá por meados dos anos 90, numa das muitas mostras de fotografias no MIS (Museu da Imagem e do Som em São Paulo), houve um evento paralelo, interativo. Fotógrafos amadores eram convidados à trazer seu trabalho para que fossem avaliados por alguns estrelas da fotografia paulista:
- Esta aqui não tá legal não cara, falta profundidade, foco, estilo. Tudo!
Era o que mais se ouvia...
Entretanto, teve uma hora que a foto acima foi apresentada para o figura mais fresco da bancada de avaliadores, aquele que já tinha esculhambado muito:
-Olha..., vou te falar uma coisa .... esta é provavelmente a melhor foto do Copan que já vi na vida!
Tomando várias ouvi esta história de pusta friend meu, o Edu.
É dele também o título deste "post". E a bela foto, é claro, também é dele.