Prahalad: A Riqueza na base da Pirâmide
O mapa acima demonstra, por países (alguns faltam dados), a porcentagem de pessoas vivendo com menos de um dólar diário. Caso adicionassemos mais um dólar à esta medida, contaríamos, em números brutos, com 4 bilhões de pessoas vivendo com menos de 2 dólares diários.
Pobreza e desigualdade não são, obviamente, exclusivas do sistema capitalista. Entretanto, dentro deste sistema, estas mazelas crescem aceleradamente e tem sido o subproduto mais cruel do modelo hegemônico neoliberal de privatização global dos últimos 30 anos.
Observemos o gráfico de distribuição de atividade economica global abaixo:
Cada faixa horizontal representa 1/5 exatamente igual da população global, (aproximadamente 1,3 bilhões de pessoas). A figura em negro representa a díspare atividade econômica global. O quinto superior mantém em seu poder 82,7% do PIB mundial, 81,2% do comércio mundial, 94,6% dos empréstimos financeiros, 80,6% da poupança e 80,5% do investimento mundiais. No quinto inferior as porcentagens são 1,4%, 1,0%,0,2%,1,0% e 1,3% para os mesmos indicadores.
O Coeficiente de Gini (uma escala de 0 a 1 para medição de desigualdade, sendo 1 o coeficiente máximo de desigualdade) aponta os índices globais de 1960 (0,69) e 1989 (0,87). Atualmente, acredita-se que o coeficiente de Gini mundial deva estar na casa de 0,9. Desta maneira, apesar das ínumeras políticas, parece inantingível o primeiro dos objetivos do milênio propostos pela Nações Unidas para 2015: Reduzir pela metade a quantidade de pessoas que vivem com menos de US$ 1,00 por dia.
Coimbatore Krishnarao Prahalad, professor da Universidade de Michigan- Ross School of Business, acredita numa solução heterodoxa para o problema da pobreza mundial: O lucro.
É o que ele argumenta no seu último livro, publicado em 2004: -A riqueza na base da pirâmide, erradicando a pobreza através do lucro (Editora Bookman / Wharton School Publishing - Leitura recomendada!).
C.K. Prahalad não é um especialista em pobreza e desigualdade, entretanto é um dos maiores, senão o maior e mais respeitado especialista mundial em estratégia corporativa (sua enfâse é em mercados emergentes e inovação). Seu modelo de core-competences formulado em 1990 em conjunto com Gary Hamel, já se tornou, há muito, parte do status quo curricular das escolas de administração e das análises dos boards das grandes empresas. O modelo contrapõe-se ao modelo Porteriano das 5 forças(presente no livro Estratégia Competitiva) da suposta lenda viva da Harvard Business School.
Prahalad nasceu em Madras na Índia, o mais velho de 9 filhos de um juiz de sânscrito. Aos 19 foi administrador de uma fábrica local da Union Carbide. Depois de passar pelo IIMA (Instituto Indiano de Administração de Ahmedabad) , e por Harvard e estabeleceu-se posteriormente como Professor da Universidade de Michigan. Prahalad é o terceiro colocado na lista dos Thinkers 50 da Suntop Media, que elegeu em 2005 os mais importantes pensadores da administração mundial. Na frente dele estão Bill Gates e Michael Porter.
A teoria de Prahalad é extremamente instigante pois combina a lógica lucrativa e superexploradora do capitalismo (excludente e geradora de pobreza) e seu uso para a extinção da mesma, à meu ver, algo como a serpente comendo o própio rabo.
Prahalad propõe que empresas, governos e ongs parem de pensar em boa parte dos pobres como vítimas indefesas e comecem à pensar neles como empreendedores criativos e com tremenda capacidade de sobrevivência /resiliência. Eles são também consumidores exigentes que demandam valor agregado. Ele esclaresce que este é um mercado extremamente mal atendido, e que existem benefícios tremendos para multinacionais que escolherem servir estes mercados de uma maneira que atenda suas necessidades, criando modelos de negócios customizados e locais.
Um exemplo interessante que combina tecnologia e mercados da base da pirâmide, apresentado na The Economist em agosto de 2005, é o mercado crescente de microcrédito no Sul da Asia, em particular, na Índia. Com a tecnologia se tornando cada vez mais barata e presente, está economicamente viável e eficiente emprestar montantes de dinheiro(US$100) cada vez menores, para um número cada vez maior de pessoas com relativamente quase nenhum ativo fixo.
Outros exemplos de empreendedores da base da pirâmide podem ser vistos em Bombaim, São Paulo, Xangai ou em qualquer grande cidade do mundo emergente. São pessoas que ganham dinheiro vendendo porções unitárias de remédios, shampoos e produtos de higiene (as marcas são todas importadas como Lever,Colgate,etc..), pessoas que vendem ligações telefônicas unitárias de um mesmo cartão, gente que cobra centavos para passar folhas de fax, ou vendem acesso temporário à internet via um celular pré-pago. O importante são preços míseros, por produtos com qualidade. Operadoras de celular e planos de saúde indianos já pegaram o recado. Lá o minuto de celular custa 2 centavos de dólar e uma operação cardíaca de marcapasso custa US$1.500.
A teoria é extremamente interessante e possuí alta correlação com a realidade, entretanto, confesso me sentir mais confortável idealizando um caminho da erradicação de pobreza que considere os pobres como produtores e não como consumidores.
Entretanto, é possível que estes mercados sejam o único futuro das corporações multinacionais.
Fontes: www.wikipedia.org, www.thinkers50.com, http--www.uni-hohenheim.de-i490a-lectures-M5101-m5101_1.pdf ;http://www.unmillenniumproject.org/reports/;http://www.businessweek.com/magazine/content/06_04/b3968089.htm
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