sexta-feira, novembro 24, 2006

A Filosofia Pensa

Boa parte dos pensamentos que julgo valer à pena postar neste blog têm ainda um plano em comum, ou um norte talvez. A Filosofia é este norte, ou, seria melhor dizer, aquilo que entendo por Filosofia.
Porquê? Não foi consciente ou proposital. A Filosofia é para mim um interesse relativamente recente. Por fruto de um estado de espírito atual, integrado e ao mesmo tempo liberto de mim mesmo e do ambiente, peguei esta estrada. Entretanto, particularidades não me interessam (nem mesmo as minhas) e valem pouco quando se fala de Identidade e de outras inter-relações da Filosofia com o indivíduo.
A Identidade não nasce com o indivíduo. Ele está condenado a construí-la. Não se nasce artesão, professor, teórico, prático, alienado ou conformista. Cria-se esta identidade. Os animais são presos ao seu próprio instinto, impulsos, desejos pré-determinados, definidos, fechados e já nascem com sua vida pré-estabelecida. O Ser humano não. Nada lhe é dado pronto, fechado. O ser humano é prisioneiro do fazer, do agir/interagir, da busca pelo significado, do controle dos desejos, da escolha entre opções, do conhecimento e expansão de suas potencialidades, de uma função de crescimento contínuo e da construção de sua Identidade.
A Filosofia não se contrapõe ao processo desta construção, complementa-o como um ferramental necessário à reflexão do pré-fazer, problematizando as escolhas. Para apropriar-se de um problema filosófico-comportamental, não é suficiente entendê-lo. É preciso vivê-lo, senti-lo na pele, dramatizá-lo, sofrê-lo, sentir-se ameaçado por ele e sentir que as bases do seu status quo pessoal foram alteradas. O elemento experimental da apropriação do problema filosófico é composto ao mesmo tempo do elemento racional como também do emocional.
Num plano superior desta experiência, Filosofia pode ser aquilo que interconecta Arte e Ciência, (aqui vai uma interpretação bem livre de Deleuze). Imaginando que nenhuma detêm supremacia sobre a outra, Filosofia, Arte e Ciência acabam se sobrepondo na criação do novo e de novas interpretações e conceitos. A Arte expressa-os através de sensações qualitativas, sempre ligadas ao afetivo, surpreendendo, alegrando, impactando, gerando emoções. A Ciência cria valores quantitativos, geralmente com base num referencial fixo, expressos numa linguagem racional, regrada e matemática. A Filosofia é o conceito por trás da obra de arte ou da descoberta científica. E conceitos também ocorrem fora destas duas esferas.
A Filosofia tem suas próprias esferas: Ontologia (Quem sou Eu?) Epistemologia (O que é o Saber?) Lógica (O que é a Razão?) Ética (O que é o Certo?) e Estética (O que é o Belo?) são suas divisões mais didáticas e conhecidas, mas suas abordagens são infinitas.
Uma das abordagens que mais me interessa hoje é a relação esterilizante entre o conhecimento da Filosofia e as neuroses da sociedade pós-moderna.
Fazer, criar, transformar,optar, etc...não são a mesma coisa que comprar pronto, reproduzir, mimetizar.
Mesmo não sendo os únicos atores do nosso destino individual, a consciência crítica e a construção do significado são hoje os antídotos contra os fetiches neuróticos e mistificações que a sociedade pós-industrial parece querer nos impôr via tendências universalizantes de comportamento e de mercadologia.


Fonte: Várias: Aulas do Professor Sigmar Malvezzi, O cinema pensa de Julio Cabrera, o Webdeleuze
http://www.webdeleuze.com/ e a Wikipédia http://www.wikipedia.org/, entre muitas.